24 de março de 2009

Tempo, temperamentalmente...atemporal.É assim que me sinto, sem raizes, sem memória, tudo é ânsia de um construção abstracta pessoal. Mas como projectar o futuro se não compreendo nem conheço a complexa formação de mim, perdida esta nas memórias da infância...
O tempo personifica todos os instantes que não tocámos, todos os dias que não beijámos, todos os segundos que chorámos...o tempo é o ser e o parecer mas mais que tudo a ausência de ter....

requiem to call center

Deito fora as entranhas, as vísceras, tudo o que, nuclearmente, construí.
Enterro no vergonhoso lodo a capacidade de reagir, e troco pelo vaporoso cheiro de inércia. Paro, sucumbo, petrifico o meu corpo e maquinizo-o a ser outro.
-Calma criança...Calma esperança, sê paciente, não desaparecerás, só te escondi dos meus olhos para poder ser um verme aos olhos dos outros...para aguentar a repulsa que sinto por mim ao transfigurar-me em mais um espectro social.
Dictomia.Ser eu, com as minhas convicções e ideias e ser eu, que habita ainda uma sociedade consumista e individualista queme quer no activo. I want you in US Army!
Não te amo, nem te quero, mas agora preciso de ti. Tenho de viver o teu esterco, chafurdo com o Prazer de nunca te querer possuir. O meu mundo natural não quer ser feliz, por isso fascina-me. O meu lugar de pertença procura ser equilibrado com todos os elementos naturais que o tornam uno. Viveremos todos a sorrir de um qualquer monte, embalados pela tranquilidade da percepção.
- Deixei-te num cantinho protegida, não te esqueci.
A maior abnegação do amor.

2 de março de 2009

espectro

Quem anda a flagelar as entranhas onde me escondo?
O que é esta torrente de lava ardente que me dilui e me leva ao chão?
Quando durmo em mim, pequena no meu pijama de sonho, porque me cortam as dolorosas festas do sentir?
Se fecho os olhos, se dou tempo ao corpo para ouvir e falar, logo ele se queixa de ti...que está irrestivelmente à espera... de morrer...
Vivo por te sentir, sinto para não continuar a viver... a lógica deste louco descompassado guia-me num túnel de luz, e eu sempre a ver apenas o escuro, onde tu ainda brincas com as memórias...e as tornas respiração.
O meu corpo é o teu recreio e as memórias os teus brinquedos...constrois assim castelos de areia que eu guardo como tesouros. Mesmo quando o mar, sábio, os tenta alisar e tornar de novo Começo, lá vou eu ansiosamente reconstruir e refazer, o que já não há. Tudo acontece num momento apenas, mas o meu passado está aqui e agora.
Quero brincar sozinha, sem a tua sombra a tocar-me no pescoço..

Sentido de Mundo

Ritmo..palavras que batem pé...ouvidos que dançam nas memórias.
Um passo para trás, um grito para a frente. Tudo se faz, tudo se constroi, tudo se sente, mesmo na eterna fugacidade segredada. O ritmo alucinante da vida está a desumanizar-nos... desfragmenta e reorganiza os pressupostos Humanos : razão, sentimentos e essência. A razão comeu os sentimentos e esse vazio sucumbiu a essência. Esquecemos o vital e subreposemos o supérfulo. Já não sentimos as folhas por baixo dos nossos pés...já nem sequer ouvimos o silêncio de um pôr-do-sol.
Estamos sós, porque nos esquecemos de nós.
Estamos sós, porque já não sabemos estar com outros.
O ritmo da vida não é o da cidade. A espera de um abraço não é igual à do autocarro atrasado. PARAR! Respirar..e entrar no compasso orgásmico de Ser, não de sobreviver. É tão necessário cheirar a flor que brota no caminho como beber água. Somos mais do que soma de células acéfalas que compõem um monte de máteria. O Universo inteiro reside no coração pulsante, a natureza dului-se na nas ondas da emoção.
Se me esqueço de olhar para o céu não sou mais do que o espectro do que fui. No dia em que não saudar o sol e beijar a lua, levem-me para o monte dos descrentes, pois já não serei humana.