24 de fevereiro de 2009


Pequena.
Pequenina.
Sinto-me assim.
Sinto-me estranhamente.... desajustadamente...
Insignificante.
Só queria relembrar
que
"a liberdade é uma maluca
que sabe quanto vale um beijo."

Sussurra-me ao ouvido o que o coração esqueceu...relembra-o com o morno beijo.

23 de fevereiro de 2009

Quero dar uma notícia ao mundo.
Se calhar o mundo já o sabe, mas os seres que nele habitam ainda não. Ou se calhar o mundo sabe, os seres sabem, os corações ainda não quiseram ouvir. Também não quis ouvir...e tapei os ouvidos. Mas quando me cortaram as mãos e o som escorreu em mim como um rugido, fechei os olhos. Os olhos habituaram-se à escuridão e ainda sorri por não querer saber. Mas quando me secaram as lágrimas e os palpebras apodreceram de inércia, a cor putrefacta não mais me largou. E a cor putrefacta cheirava a perfume, um perfume ladrão de sentidos, e o olfacto perdeu-se no último suor de resistência. Quando só a boca me sobrou fechei-a. Quis ter ainda a recordação de outros sabores, de outros abraços. Agora que os dentes já cairam e a lingua se contorce na súplica final, digo em jeito de morte.


Perdemo-nos uns dos outros.


liliana
Brinco às escondidas por entre o serpentear do tempo. Encolho o que sou na salvaguarda da penunbra, onde o riso não chega e as lágrimas são surdas. A boca seca, o coração corre ainda, agrilhoado na teia sedosa do desalento.
Tenho saudades de sorrir, mas de sorrir com os dentes, as gengivas, a garganta!
De sentir a contracção da cara ao coração!
Onde perdi a coragem?
Onde te deixei Criança?
Saltarás sem mim num outro monte ou eras um amigo imaginário criado na vã ilusão da partilha?
Não sei. Esta mão, agarrada a este braço, agarrado a este corpo procura a linha da vida. Autonomamente. Corajosa, possui o desconhecido e traça o traço traçado livremente.
Poderia eu ser escrita e tudo seria simples, redondo e contínuo do A ao Z. Faria história, estória e curvas na areia inexplorada. Não sendo escrita, procuro nas palavras desenhadas o que as outras não encontram.
Quero destituir a fala, a mera sedutora das essências surdas. Pausa. Infinito. O peito amarrota o grito, o eterno deambulante suprimido.
Só queria ser encontrada para deixar o jogo... e o quarto escuro.

Liliana
Amo-te com as pernas
traçadas
abraçadas
uma sobre a outra, na ânsia de afago.
Amam-te as pernas
o tronco já não o pode fazer,
mutilado está nos tiroteios da reciprocidade
ou da falta dela
ou da sua conturbada obscuridade.

Amo-te com os pés
que com os seus dez satélites te perscrutam no caminho.
Cheiram-te
Têm neles a tua memória, conversam entre si sobre o paladar das tuas costas de desejos.
Amam-te os pés porque a terra já não o faz,
Deixou-te
Largou-te
No universo da existência e sucumbiste antes de te elevares.

Amo-te com os cabelos
Porque são rebeldes na sua verticalidade,
Não esquecem o desenlace
Trágico
das tuas mãos,
O descansado respirar oferecido em outros mundos.
Crescem na esperança de te abraçarem,
pontes
cordas de afectos e
abraços de alma.

Ama-te o lado esquerdo
Oriente do meu instinto.
Intuição que me faz sonhar
as pernas
os pés
os cabelos.
Amo-te com o lado esquerdo já que o direito cala o grito e sossega o devaneio.
Pioneiro
Leva-me
Ensina-me
Em suma...tenta!

Tudo o resto
Não te ama, não te quer,
Repulsa-te
A ti
E a metade de mim.



Liliana