5 de maio de 2009

As andorinhas voam sobre o meu pátio de sonhos. Desfilam a alegria de sentirem a sonolenta lua beijar-lhes a testa. Cai a noite lentamente, escorrega no veludo azul celeste e compõe-se para conversar. A paleta das cores do mundo mostra-se a mim, oferece-me instantes de contemplação. Pinceladas de sol escorrem ainda nas paredes que rivalizam pela minha atenção. Cada janela é um mundo, cada mundo é um segredo. Todos podemos olhar o nosso mundo privado. Poucos o vêm...mas eu reparo. À minha volta as casas esticam-se e sacodem a poeira solar. Olhos piscam nas persianas que baixam. E dos pequenos jardins, corredores de verde aprisionado, as arvores espreitam e cintilam o verde no escuro cinzento. E as andorinhas! Bailam agora no céu, dizem-me até amanhã primavera! Somos tuas e tu nossa, enquanto o sol brilhar… e os movimentos hipnóticos já me fazem voar nas teus cabelos…sempre esses dolorosamente presentes caracóis que se emaranham na realidade e me tiram os pés do chão… deixa-me ficar, pelo menos em bicos de pés! A bossa nova toca lá em baixo e pessoas conversam e riem… vejo-os e sorrio. Sentimos todos o cheiro da frescura e das promessas. Tenho o mundo todo diante dos olhos, ao alcance dos meus dedos. E mais um voo, razia da alma inquieta que volta de mais uma incursão nas tuas memórias. Apanhou o balanço das aves e mergulhou no abismo profundo do teu olhar! E agora está aí contigo, perscruta os teus pensamentos, os teus órgãos, beija o teu coração pulsante e volta, extenuadamente feliz até mim. Agora volto a olhar para fora. A lua entretanto embranqueceu ao sentir-me contigo e instalou-se. Cresce, grande, grávida de vida e algodão..diz-me que os abraços são sempre dados, mesmo os clandestinos.
Ninguém vem à janela…. Não há movimento no suspiro do crepúsculo… só eu estou aqui, a afundar-me num banho de lua.

2 de maio de 2009

Vejo por dentro, sinto por fora.
Ao longe uma multidão conversa e ri sem saber, embebida nos enganos de que tudo está bem. Apenas mais um dia, mais um pôr-do-sol, ignorado por aqueles que despem a obscuridade da noite. O sol sorri-lhes, melancólico de quando sentia a comunhão humana. Agora sai e dá espaço à penumbra, onde o extase escorre e a solidão persegue.
Todos sorriem, semlábios, sem dentes, sem lingua, num esgar contorcido de volúpia.
E eu aqui, mas longe. Viajo no pôr-do-sol, abraço os seus últimos saios na ânsia de sentir o teu calor. Também estarás a sentir? Visto a capa de sonho e viajo num sopro do vento até aterrar nos teus cabelos. Aí, na terra de ninguém, sou embalada pela mão ancestral do Amor, não há tempo, só uma imensa serenidade de plenitude. Sorris...e a tua alma enternece-me na promessa de um beijo. Contruímos o nosso mundo além dor, além real, além supérfulo...um mundo de carícias coloridas e aromas...o teu cheiro a rebuçados. Brincamos na construção deste nosso universo e tudo, é tudo frágil e secreto...ainda.
Devaneios de quem está fisicamente longe, certezas de almas que se conhecem desde sempre...para sempre.
Esta multidão é apenas um grao de areia no nosso universo. Caminhamos ladoa lado à beira mar...olhamos para trás e... sorrimos ao er que existe só uma sombra, forte, branca, na areia...

:)